Em
Julho, os resultados operacionais derraparam 126,6%
em
relação ao período homólogo de 2012. Custos não só não
baixaram, como estava estipulado no Memorando de entendimento com a
troika, como até subiram 1,7%.
As contas dos hospitais
do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão cada vez piores. Os
últimos dados da monitorização mensal do SNS revelam que no final
de Julho o buraco nos resultados operacionais atingia os 330,2
milhões de euros, o que representa um agravamento de 126,6% (184,4
milhões) em relação ao montante registado em igual período de
2012.
A análise aos números
divulgados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS)
permitiu concluir que em Julho, dos 38 hospitais e centos
hospitalares e oito unidades locais de saúde (entidades que integram
o hospital e os centros de saúde da sua área de atendimento) só
cinco tinham resultados operacionais positivos: o Hospital de Santa
Maria Maior, (291,2 mil euros); o Centro de Medicina e Reabilitação
Rovisco Pais (122,5); o Hospital José Luciano de Castro (618,5); e
as ULS de Castelo Branco (243,3) e do Litoral Alentejano (6,6
milhões). Um ano antes, o número de unidades com resultados
positivos era de 18.
Em termos homólogos, só
seis unidades registaram uma melhoria neste indicador, os centros
hospitalares da Cova da Beira, Barreiro/Montijo, Médio Tejo,
Setúbal, o Hospital José Luciano de Castro e a ULS do Litoral
Alentejano. Convém referir ainda que, em termos mensais, este
indicador derrapou 36,7 milhões face a Junho, depois de até ter
registado uma diminuição de 60,1 milhões em relação a Maio. Esta
tendência, no entanto, também se verificou o ano passado e a
redução do buraco até foi bem maior (102,2 milhões).
O
Centro Hospitalar Lisboa Norte apresenta não só o resultado
operacional mais negativo (77,1 milhões) como a derrapagem homóloga
mais acentuada (32,1 milhões). Isto apesar de até ter sido das
poucas unidades que conseguiram reduzir os custos operacionais no
período em análise. Só
oito reduziram custos. A
análise de cada uma das fichas da monitorização mensal permite
verificar que a grande maioria dos hospitais não está a conseguir
baixar os custos operacionais. Com efeito, só oito unidades
conseguiram reduzir as suas despesas face a Julho de 2012: além do
já referido CH Lisboa Norte, os institutos de Oncologia do Porto e
de Coimbra, o Hospital da Figueira da Foz, o Instituto de
Oftalmologia Gama Pinto, os centros hospitalares Médio Tejo e
Barlavento Algarvio e a ULS do Norte Alentejano.
Em termos globais, os
custos operacionais atingiram os 2845 milhões de euros no final de
Julho, ou seja, mais 48,6 milhões (1,7%) que em igual período de
2012. Recorde-se que o Memorando da troika previa um corte de 15% nos
custos operacionais.
Confrontada
pelo i,
a porta-voz da ACSS justificou a derrapagem dos números com a
decisão do Tribunal Constitucional: "Não se trata de uma
derrapagem. A decisão do TC, que reintroduziu os subsídios de
férias e de Natal, tem nos primeiros sete meses do ano um impacto
nos custos dos EPE de 83 milhões. Adicionalmente, o aumento das
contribuições para a Caixa Geral de Aposentações tem um impacto
nos custos de 63 milhões. Significa que só nestas duas rubricas há
um agravamento de custos de 146 milhões, o que significa que nas
restantes os hospitais estão a gastar menos."
Face a esta justificação
pode concluir-se que, mesmo descontando 146 milhões nos resultados
operacionais, esta rubrica estaria pior 38,5 milhões que em Julho de
2012.
Em
relação ao EBITDA (resultados antes de juros, impostos,
depreciações e amortizações), os dados da ACSS indicam que este
indicador também está bem pior que há um ano. No final de Julho
atingia os 237,5 milhões de euros, o que representa um agravamento
de 173 milhões
face ao valor global registado em igual mês do ano passado.
Em
Julho deste ano, só 13 unidades tinham um EBITDA positivo. Um ano
antes eram 28.
Depois
temos a constatação de que a equipa ministerial da saúde tem 52
funcionários, que custam mais de um
milhão de euros
ao ano. Adicione-se a estes custos a compra de serviços de
consultoria a elevados preços, muitas vezes de qualidade duvidosa se
submetidos a revisão de pares, e para decisões em que um ministro
especialista do sector também não necessitaria. Este é, aliás, um
fenómeno observado ao nível de muitos conselhos de administração
de hospitais, administração central e institutos tutelados pelo
Ministério da Saúde. Trata-se de um problema estratégico encoberto
na administração pública do sector da saúde. O desrespeito para
com as efectivas competências técnicas e científicas de gestão em
saúde, disponíveis mas desaproveitadas em Portugal, merece fazer
parte das notas negativas da troika a Portugal.
Eis
um fenómeno que uma cortina de silêncio mantém fora do debate
sobre o futuro do SNS.