quinta-feira, 20 de maio de 2010

Propostas para Poupar uns M€

1. Aprovar regime de 40 horas semanais de trabalho, universal para todos os regimes e carreiras do Estado. Em tempo de crise, sem qualquer acréscimo de remuneração. Uniformização das regras sociais: público e privado com os mesmos direitos. Professores, juízes, carpinteiros, médicos, administradores, assistentes operacionais, operários, deputados, vereadores, gestores, etc todos pela mesma bitola - 40 horas.

2. Separar no acto de triagem do SU os episódio de urgência e não urgência, permitindo o reencaminhamento (com definição de prazos) para a consulta aberta do Centro de Saúde ou para qualquer uma das consultas externas do Hospital. Reduzir-se-iam imenso às tão badalas horas extras (médicas) e as nossas urgências serias mais urgências…

3. Dar um papel mais central aos Enfermeiros na «Medicina Preventiva» nos Cuidados de Saúde Primários. O estímulo que isto representaria, e a poupança em horas de trabalho aos médicos, levaria a uma poupança descomunal, e libertaria mais clínicos para a área «Curativa». Acabaria também esta mitológica e crónica falta de médicos. (De que adianta saber supostamente mais, sem tempo para fazer ?!!?).

4. Dar poder organizativo e remuneratório a estruturas intermédias de gestão, como por ex. os Centros de Responsabilidade Integrados (CRI), em contexto hospitalar; Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) nos Cuidados de Saúde Primários.

5. Extinguir a ADSE e outros sub-sistemas, porque que motivo uma franja de 700 000 mil têm determinados regalias e os restantes, mais de 9 milhões, têm a Segurança Social? Se todos os anos a ADSE soma prejuízos…

6. Andamos todos incomodados com a falta de concorrência nos combustíveis, mas pactuamos silenciosamente com a completa, total e absoluta ausência de concorrência entre farmácias. Ou alguém consegue comprar o brufen mais barato na farmácia X?

7. Cada utente ter, em vez do cartão de saúde, um qualquer sistema de armazenamento portátil de informação, onde ficassem registados actos médicos/cirúrgicos prévios, medicação e exames complementares. De modo a evitar repetições, desperdícios e em última análise um mais rápido acesso a um histórico em caso de urgência

8. Regionalmente criação de uma Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, de modo a obter ganhos em saúde, ganhos de acessibilidade, ganhos de produtividade e integração efectiva de cuidados primários com os hospitalares, pela via do factor escala e eficiência. A gestão integrada dos Centros de Saúde e da Unidade Hospitalar de referência local, Unidade Local de Saúde (ULS), que vão sendo implementadas pelo País, tem demonstrado interessantes ganhos de eficiência e de acessibilidades para as populações abrangidas. È tempo de esta região renovar-se também nos modelos organizacionais.

Tempos Decisivos

Iniciou em Maio, em plenas funções, um novo Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa E.P.E. dirigido pelo Dr. José Luís Catarino, ex-presidente do conselho de administração do Hospital de Valongo e tido como próximo do Sr. Secretário de Estado da Saúde Dr. Manuel Pizarro. Também um ilustre pacense tem agora lugar nessa administração o Dr. Paulo Sergio Barbosa. Faço votos que estas particularidades sejam uma mais-valia para a nossa região, que tendo dirigentes locais e com boas relações com o poder central, o acesso ao bem Saúde por parte das populações abrangidas seja efectiva e melhore, em prol de um bem comum.

Alguém disse que, nós portugueses, substituímos o conceito de medicina baseada na evidência para o de medicina baseada na urgência. É neste sector que se reflecte a nossa incapacidade organizativa em matéria de cuidados de saúde, nomeadamente os de prevenção e promoção, ditos primários. A urgência do hospital é o último reduto de quem necessita de cuidados assistenciais e a eles não consegue aceder por outra via, é nele que se espelha a ineficiência do sistema de saúde. Ao SU acorrem doentes que não conseguem resposta atempada do seu médico de família; os que não conseguem aceder a uma consulta de especialidade de outra forma; os observados/transferidos em unidades privadas (algumas com urgência aberta e sem internamento); e, finalmente, os que verdadeiramente a ele deveriam recorrer: os acidentados ou acometidos de doença súbita com risco de vida imediato.

Nos países com medicina mais (e melhor) organizada, são estes últimos que praticamente recorrem ao SU. È o caso dos nossos vizinhos espanhóis. Assim, as equipas médicas nas urgências são reduzidas tendo como papel principal o diagnóstico imediato da situação e a estabilização dos parâmetros vitais. Uma vez feito o estadiamento clínico, é aos serviços internos do hospital que compete tratar o doente em causa. Em Portugal, não é bem assim que se passa. Os SU funcionam quase como um hospital dentro de próprio hospital, o que leva a um frequente aumento dos quadros profissionais ou, última moda, a contratar médicos tarefeiros, para responder às necessidades crescentes do SU.

Neste contexto não admira que os gastos dos hospitais e do sector da saúde não parem de crescer.

Os tempos são de crise, todos a estamos a sentir, mas para quem tem a responsabilidade de mudar o rumo do país, existem opções que poderão ser decisivas e comprometedoras para as gerações vindouras. Também a Saúde poderá dar um contributo para a sociedade pela via do combate ao desperdício e pela via da promoção de boas prácticas em Saúde. Procurando activamente soluções inovadores para os problemas e ou mesmo tempo, sejam geradoras de mais-valias para áreas necessitadas.

A título de exemplo aqui ficam algumas ideias. Porque não separar no acto de triagem do SU os episódio de urgência e não urgência, permitindo o reencaminhamento (com definição de prazos) para a consulta aberta do Centro de Saúde ou para qualquer uma das consultas externas do Hospital. Reduzir-se-iam imenso às tão badalas horas extras (médicas) e as nossas urgências serias mais urgências. Dar poder organizativo e remuneratório a estruturas intermédias de gestão, como por ex. os Centros de Responsabilidade Integrados (CRI), em contexto hospitalar; Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) nos Cuidados de Saúde Primários. Promover um mercado livre nas farmácias, andamos todos incomodados com a falta de concorrência nos combustíveis, mas pactuamos silenciosamente com a completa, total e absoluta ausência de concorrência entre farmácias. Ou alguém consegue comprar o brufen mais barato na farmácia X? Cada utente ter, em vez do cartão de saúde, um qualquer sistema de armazenamento portátil de informação, onde ficassem registados actos médicos/cirúrgicos prévios, medicação e exames complementares. De modo a evitar repetições, desperdícios e em última análise um mais rápido acesso a um histórico em caso de urgência.

Por fim uma solução para a nossa região, a ser ponderada por esta nova Administração do CHTS: criação de uma Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, de modo a obter ganhos em saúde, ganhos de acessibilidade, ganhos de produtividade e integração efectiva de cuidados primários com os hospitalares, pela via do factor escala e eficiência. A gestão integrada dos Centros de Saúde e da Unidade Hospitalar de referência local - Unidade Local de Saúde (ULS) - que vão sendo implementadas pelo País, têm demonstrado interessantes ganhos de eficiência e de acessibilidades para as populações abrangidas.

Por que razão os mais de 500 000 habitantes do Tâmega e Sousa não têm um melhor acesso aos cuidados de saúde? Não será possível mudar este rumo, Inovando? Gerando mais-valias nesta cadeia de valor que são os cuidados em saúde.

O CHTS poderá estudar as soluções implementadas pelo País e concretizar a que melhor se adeque às características intrínsecas na nossa região. De modo a melhorar o acesso á saúde, prevenindo ao invés de curar, uma vez que aí o custo é bem menor para todos, utente e sociedade. A chave destes processos está na prevenção e planeamento.

in Tribuna Pacense a 21.05.2010

domingo, 9 de maio de 2010

IMAGIOLOGIA III

Os progressos verificados ao longo dos anos na Imagiologia sempre estiveram intimamente ligados ou potenciaram o desenvolvimento ocorrido noutras áreas da medicina. Esse facto foi determinante para a melhoria do conhecimento das patologias do ser humano. Basta pensar na mudança espectacular da prática médica operada através da divulgação da radiografia simples, sem a qual não teria sido possível caracterizar as diversas situações patológicas que atingem o esqueleto, das mais complexas até às mais simples, como por são as do foro traumático e assim estabelecer as bases correctas do seu tratamento.

Ainda no que diz respeito à cooperação da Imagiologia com outras especialidades para além da referência feita à radiologia simples, pode-se considerar que, até ao presente, existiram mais outros dois momentos igualmente cruciais nesta cooperação, coincidentes com a invenção e rápida difusão da Ecografia, TAC e RM. Apesar destes constituírem os marcos fundamentais, a evolução tecnológica da imagem aplicada ao corpo humano tem-se mantido em constante desenvolvimento facilitando-nos múltiplos processos de estudo das patologias que, ultrapassando os aspectos puramente morfológicos, já nos fornecem dados de ordem fisiopatológica cujo interesse é evidente.

Se os referidos avanços técnicos da Imagiologia trouxeram e continuam a trazer, vantagens indiscutíveis podem, quando não devidamente utilizados, suscitar alguns inconvenientes que convém mencionar e dos quais nos devemos precaver. Estes inconvenientes resultam de não se respeitarem as regras de actuação inerentes, impostas pelas limitações e potencialidades que lhes são características.

Assim, o aperfeiçoamento das Técnicas de Imagiologia aliada à sua facilidade de execução, tornando-as cada vez menos invasivas, tem produzido imagens de grande fidelidade e definição cuja novidade tem levado à sua entusiástica, difundida e, por vezes, indiscriminada obtenção. Como além disso, os médicos especialistas que manipulam estas técnicas raramente têm a oportunidade ou possibilidade de fazer uma exploração clínica completa dos respectivos doentes, e não recebem, na maioria das vezes, qualquer espécie de indicação útil sobre as dúvidas que se pretendem ver esclarecidas naquele caso concreto, acabam por se circunscrever à analise e interpretação pura da imagem nos relatórios escritos do exame efectuado.

Desta forma se vai acumulando uma quantidade de informação, aliás dispendiosa, cuja utilidade prática pode, nalguns casos, ser duvidosa e enganadora exigindo uma avaliação crítica do seu real significado patológico, avaliação essa que só é possível fazer conjugada com os respectivos dados clínicos.

Por outro lado, por exemplo a Ortopedia, que possuí como característica intrínseca da dinâmica do seu raciocínio clínico, a aproximação imediata ao diagnóstico baseada fundamentalmente na história e observação cuidadas, com preferência pela Imagiologia como auxiliar de inestimável valor na referida dinâmica, ao ser-lhe fornecida neste campo uma informação de alta qualidade técnica, corre o risco, como tantas vezes acontece de desprezar a sua metodologia tradicional e fixar-se também na imagem, sem ponderar convenientemente a sua correlação clínica. A consequência inevitável será estabelecer uma orientação terapêutica desajustada, com grande probabilidade de vir a ser ineficaz, senão prejudicial, para o doente.

Estas considerações demonstram a relevância e necessidades dos dados clínicos para uma correcta interpretação das diferentes modalidades de imagem das estruturas osteoarticulares.

Numa época e cultura propensa ao imediatismo das sensações produzidas em detrimento da percepção especulativa, a Imagiologia possui todos os atributos que a tornam susceptível, quando mal aplicada e utilizada, de exercer uma influência dominadora excessiva na orientação clínica de grande parte das situações, com os incovenientes já assinalados. Por isso nunca será demais repetir que a imagem deve estar subordinada e tem de ser analisada de acordo com o quadro clínico presente e não o inverso.

Isto exige da parte do clínico um conhecimento correcto das possibilidades da Imagiologia que, ao serem potenciadas pelos dados clínicos, obrigam-no a partilha-los com os colegas que manipulam essas técnicas, o que supõe manter com eles um constante diálogo. Só desta forma será possível pedir e executar os exames mais adequados à situação patológica que se pretende estudar, evitando atrasos condenáveis no diagnóstico e respectiva terapêutica a instituir, para além das desnecessárias perdas de tempo e de gastos excessivos que doutra forma se infligem aos doentes e às instituições onde são assistidos.

Um exemplo clássico de uma actuação errônea nesta matéria retirado da prática clínica diária, é-nos dado pelo doente na sua primeira crise de lombalgia pura, cujo único exame complementar de diagnóstico que lhe mandaram fazer é um TAC da coluna lombar. Esta situação não é infrequente e levanta de imediato a suspeita de que o doente não foi provavelmente, observado (para já não falar daqueles doentes que são os primeiros a exigirem o TAC sem o qual se sentem defraldados e mal atendidos). Mal ele se sentou frente ao médico e referiu a sua dor lombar é-lhe entregue o respectivo pedido do exame cujo prestígio, como elemento decisivo do diagnóstico, admite sem reservas, por se encontrar larga e erroneamente difundido na generalidade do público. Se reparar-mos, conforme está descrito, que cerca de 20% das alterações detectadas neste tipo de exame são de significado patológico duvidoso ou não têm correspondência clínica, que a lombalgia sendo um sintoma mais frequente tem múltiplas causas e um componente funcional muito importante impossível de detectar por este meio, fica bem ilustrado o somatório de erros que se podem acumular quando, para o diagnóstico de uma simples lombalgia, nos baseamos apenas no referido exame.

Um outro cenário paralelo e também frequente é o daquele doente que ocorre à consulta visivelmente ansioso porque nas múltiplas radiografias do esqueleto, devido a umas vagas queixas dolorosas poliarticulares, os respectivos relatórios (por eles lidos atentamente) enumeram minuciosamente uma série de anomalias. Nestas tenta desesperadamente encaixar as suas queixas e por vezes até inventa, inconscientemente, outras que satisfaçam essa pretensão, subvertendo o seu relato de sintomatologia que deve ser cuidadosamente analisado e desmontado pelo especialista, a fim de evitar enganos grosseiros de diagnóstico. Aqui o problema reside no definir o que se entende como padrões de anormalidade de determinadas situações, de modo a não tomar por patológicas imagens que correspondem por exemplo ao envelhecimento natural das estruturas esqueléticas. Isto revela mais uma vez a importância da análise das imagens com base na história e a observação clínica dos respectivos doentes.


Muitos outros exemplos poderíamos ainda dar de situações idênticas cuja conclusão a tirar, é que não será possível do ponto de vista patológico, fazer uma interpretação dessas imagens considerada correcta fora do contexto clínico das mesmas ou construir uma hipótese de diagnóstico com base exclusivamente nos respectivos dados imagiológicos.

As considerações feitas revelam a necessidade imperiosa do diálogo clínico-imagiológico sem o qual não será possível estabelecer o diagnóstico exacto e instituir a terapêutica adequada.


in Tribuna Pacence a 07.05.2010