quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O que aí vem para os CSP

Os Centros de Saúde vão ter de cortar despesas com pessoal em 4% já em 2014. Segundo Administração Central do Sistema de Saúde diz que “toda e qualquer previsão é neste momento prematura”.

A Administração Central do Sistema de Saúde informou as ARS de que em 2014 devem poupar pelo menos 4% nas despesas com pessoal. A informação chegou através de uma circular — noticiou segunda feira o Jornal de Negócios — dirigida a todas as administrações regionais de saúde (que fazem a transferência das verbas para os centros de saúde) e também aos hospitais do sector público administrativo — que representam apenas uma pequena parte do sector hospitalar do SNS, já que a maioria destes estabelecimentos são entidades públicas empresariais (EPE) que contam com mais autonomia. “As despesas com pessoal de todas as entidades devem apresentar uma redução, face ao orçamento de 2013, de, pelo menos, 4%”, lê-se na circular, que salienta que o corte incide sobre “o orçamento inicial de 2013 que não contemplava parte dos subsídios” — medida entretanto chumbada pelo Tribunal Constitucional. A este corte somam se ainda os descontos das instituições para a Caixa Geral de Aposentações.

Numa nota enviada na terça feira às redacções, a Administração Central do Sistema de Saúde diz que nada está, afinal, completamente decidido: “Está a decorrer o processo de elaboração das propostas de orçamento toda e qualquer previsão apresentada neste momento é prematura e sujeita a correcções posteriores”. A circular, alega este organismo, não faz mais do que “verter um conjunto de orientações relativas aos trabalhos de preparação do Orçamento de Estado de 2014 para as instituições do sector público administrativo do Ministério da Saúde”. As rescisões amigáveis e o envio de trabalhadores para a mobilidade especial poderão ser formas de centros de saúde e hospitais procederem às poupanças exigidas. Entretanto, e reagindo a esta e outras notícias na área da saúde, o PS acusou o Governo de aproveitar o mês de Agosto para “ir desmantelando o Serviço Nacional de Saúde à socapa, sob o pretexto da sua difícil sustentabilidade”. Para Álvaro Beleza, do secretariado nacional do partido, há uma tentativa encapotada de transferir a saúde para grupos privados. “Temos um ministro das Finanças na saúde e falta um ministro da Saúde”, observou o dirigente socialista.

Nunca o SNS correu tão graves perigos. No espaço de um ano, os hospitais e centros de saúde do Estado perderam 1.795 funcionários. Trata-se de uma saída média de cinco trabalhadores por dia, uma marca que os sindicatos do sector consideram preocupante e que poderá levar à degradação do serviço nacional de saúde. Segundo dados da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), citados pelo Correio da Manhã, entre Junho de 2012 e Julho de 2013 foram dispensadas pessoas em 31 dos 36 hospitais e unidades de saúde locais do Estado. 

Na Grande Lisboa os hospitais reduziram 635 trabalhadores, contra 344 no grande Porto e 267 pessoas no Hospital Universitário de Coimbra. Para o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses estes cortes vão levar a uma grande carência de profissionais, nomeadamente de enfermeiros. Guadalupe Simões, em declarações ao “Correio da Manhã”, diz que “só nos hospitais do Estado faltam 10.000 profissionais”. O Governo pretende reduzir este ano mais 2% do pessoal na Administração Pública, seja através de aposentações, seja através da não renovação de contratos a prazo.

A fractura social inevitável redundará num conflito social de porpoções inimagináveis. Também a Ordem dos Enfermeiro já veio afirmar que a redução de custos com o pessoal terá implicitamente consequências para os utentes. E reafirma que nos CSP (Centros de Saúde) existe uma evidente falta de recursos humanos, nomeadamente de enfermeiros.

Esta política cega de cortes e mais cortes está a levar-nos por uma caminho que pode não ter retorno.