O Sistema de Saúde em Portugal engloba múltiplos e variados agentes (públicos e privados). O primeiro deve ser o Centro de Saúde (CS). A acção política tem tentado re-centrar os Cuidados de Saúde Primários, tentando modificar o seu modelo de funcionamento, de modo a dar as respostas que as populações necessitam e cada vez mais exigem.
Uma dessas alterações, e das mais bem conseguidas, são as Unidades de Saúde Familiares (USF). As USF são pequenas unidades operativas dos CS com autonomia funcional e técnica, que contratualizam objectivos de acessibilidade, adequação, efectividade, eficiência e qualidade, e que garantem aos cidadãos inscritos uma carteira básica de serviços.
Nem todas as USF estarão no mesmo plano de desenvolvimento organizacional. A diferenciação entre os modelos de USF (A ou B) é resultante do grau de autonomia organizacional, da diferenciação do modelo retributivo e de incentivos dos profissionais.
Modelo A. Este modelo corresponde na prática, a uma fase de aprendizagem e de aperfeiçoamento do trabalho em equipa de saúde familiar, ao mesmo tempo que constitui um primeiro contributo para o desenvolvimento da prática da contratualização interna. É uma fase indispensável nas situações em que esteja muito enraizado o trabalho individual isolado e/ou onde não haja qualquer tradição nem práticas de avaliação de desempenho técnico-científico em saúde familiar.
Modelo B. Este modelo é o indicado para equipas com maior amadurecimento organizacional onde o trabalho em equipa de saúde familiar seja uma prática efectiva e que estejam dispostas a aceitar um nível de contratualização de patamares de desempenho mais exigente.
As USF provam que equipes multi-profissionais podem organizar-se, contratualizar uma carteira de serviços com a ARS e ser premiadas pelo cumprimento dos objectivos estabelecidos. Pelo acompanhamento dos diferentes objectivos do projecto é possível avaliar, e premiar os bons e penalizar os que o não são. Esta é que é a verdadeira questão. Separar o trigo do joio.
A maioria dos serviços públicos não estão organizados desta forma, todos têm o seu posto de trabalho, as suas funções, mas a contratualização interna não existe ou tarda a ser efectivada. Quando muito, existe alguém (o chefe!) que avalia a prestação do colaborador numa determinada função, para mais tarde este poder subir de categoria, mas trata-se de uma avaliação dentro de parâmetros muito generalizados. E não em objectivos pré-estabelecidos, exequíveis e acessíveis, avaliados por terceiros externos ao serviço, como nas USF.
Os utentes das USF são os primeiros a reconhecer que este modelo de organização produz melhores resultados, são melhor atendidos e com mais rapidez que no modelo tradicional de CS. Os doentes via telefone agendam com facilidade uma consulta médica regular ou mesmo urgente com o seu médico de família. E em caso de falha de algum profissional, a equipe intersubstitui-se, tentanto assegurar, da melhor forma possível os cuidados necessários (sejam de enfermagem ou de medicina).
Os profissionais de saúde estão mais motivados, pois gerem os objectivos em saúde localmente, com inegáveis resultados para as comunidades que servem. Em duas palavras: descentralizou-se a responsabilidade para um nível local, e atribui-se prémios por cumprimento do contrato programa / carteira de serviços. E os resultados estão á vista, cada vez mais o numero de USF aumenta pelo País fora.
Poderá ser este um dos caminhos do SNS, e até de outros serviços do Estado, contratualizar dentro de cada instituição, serviço a serviço, uma carteira de serviços exequíveis, acessíveis de modo a motivar os profissionais e premiando quem atinge os resultados pretendidos.
in Tribuna Pacense a 18.06.2010