quarta-feira, 20 de junho de 2012

Fim da ADSE

Os funcionários públicos vão perder parte dos benefícios garantidos pela ADSE ainda este ano. O memorando da troika prevê que a despesa com os subsistemas de saúde dos funcionários públicos caia para quase metade até ao final de 2013, mas a sua última versão adiou para o Verão a análise das medidas concretas.

Explica o documento que é necessário "acelerar" os planos que garantam que os sistemas de saúde dos funcionários públicos são auto-sustentáveis em 2016. "O plano prevê que a despesa total dos esquemas existentes – ADSE, ADM (Forças Armadas) e SAD (polícias) – seja reduzido em 20% em 2012 e noutros 20% em 2013", ao nível de todos os serviços do Estado. Como? "Reduzindo a contribuição a cargo do empregador e ajustando o âmbito dos benefícios", explica ainda o documento de compromissos do Governo português com os credores internacionais, acrescentando que o plano será analisado durante a quinta revisão do programa de ajustamento, que deverá ocorrer em Agosto.

Ao longo dos últimos anos, a tentativa de redução do défice da ADSE tem vindo a ser testada através do aumento do valor financiado pelos funcionários públicos. O desconto a cargo dos pensionistas tem vindo progressivamente a subir, de 1% para 1,5%, tendo igualado este ano o dos funcionários no activo. Por outro lado, o desconto passou a incidir sobre os subsídios de férias e Natal.

Em Março a ADSE tinha 1,34 milhões de beneficiários, entre activos, parentes e familiares. Os funcionários podem ainda vir a ser sujeitos a cortes no subsídio de doença, no âmbito da convergência com a Segurança Social.

É o orçamento da Saúde que paga a maior fatia da factura com exames médicos e análises tanto dos utentes do SNS como dos beneficiários da ADSE, mas a preços diferentes. O governo vai avançar com uma tabela única já no próximo mês. Segundo um documento interno do MS, com o balanço das medidas do programa do governo e memorando da troika na área da saúde, esta medida de harmonização visa pôr fim à disparidade ente as duas tabelas na área da patologia clínica e imagiologia e “às ineficiências para o sistema daí resultantes.”

Paulo Macedo mencionou a “harmonização” de tabelas na sexta-feira, à margem do Dia Nacional de Luta contra a Paramiloidose. O ministro disse que esta iniciativa estava em curso e teria resultados nos próximos dois meses. Neste documento do governo, datado também de 16 de Junho, prevê-se que a tabela única entre em vigor a 1 de Julho, dentro de uma semana, algo que já terá sido comunicado também aos laboratórios com contrato com o Estado.

O processo está em curso, – o memorando da troika estipula que este ano os encargos com a ADSE e outros subsistemas de saúde têm de ser reduzidos em 30%. O economista Mendes Ribeiro, coordenador do grupo técnico para a reforma hospitalar, adiantou que se trata de nivelar os preços que o Estado paga ao sector convencionado – os laboratórios e centros de análises privados que fazem exames e análises – pela tabela que for “mais vantajosa”. “Não representa nenhum prejuízo para ninguém”, garante Mendes Ribeiro. Pelo contrário: “Representa um benefício para o Estado para poder optimizar o preço que paga.”
O memorando determina que até 2016 os subsistemas de saúde que abrangem funcionários públicos (no caso da ADSE) ou forças de segurança passem a ser auto-financiados, reduzindo-se a contribuição dos funcionários e ajustando-se a carteira de benefícios. Na última actualização ficou definido que o plano de ajustamento será delineado na quinta avaliação da troika.

Tenta-se progressivamente aproximar os benefícios dos funcionários do Estado com os demais concidadãos.

A ADSE, e demais subsistemas públicos, deveriam ser extintos pois já temos um SNS gratuito para todos os cidadãos suportado por impostos. Não vejo motivo para haver subsistemas para tipos especiais de cidadãos. Quando comparamos os benefícios que a ADSE proporciona, são idênticos a um seguro »topo de gama». Na função pública, só quem ganha mais de €4.000 desconta o equivalente ao prémio que pagaria por um seguro com uma cobertura idêntica. O salário médio da função pública não se aproxima nem de longe desses €4.000. Isso apoia logo a ideia de que é impossível com 1,5% de desconto dos funcionários públicos sustentar a ADSE. Quem mais contribui é o Estado com 2,5% da massa salarial da função pública, ou seja, através dos impostos de todos. Alias se a ADSE fosse financiada apenas pelos descontos dos funcionários públicos e, dessa forma, auto suficiente, não teria nada a opor. Mas não estou a ver tal a acontecer, uma vez que seria a falência certa. Uma certeza existe, os hospitais privadas apenas subsistem ´a custa dos subsistemas, uma vez que os seguros privados representam uma percentagem mínima da população, o que por ultimo, mexidas nos subsistemas do Estado, afetara essas unidades de forma cirúrgica.

Aproveite-se a oportunidade de tornar todos os cidadãos no mesmo patamar de benefícios, horários de trabalho, direitos, etc

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Médicos à hora

Ministério da Saúde prepara-se para contratar 2,5 milhões de horas!!! a tarefeiros ao mais baixo preço.

O governo, através da central de compras do Ministério da Saúde, abriu um concurso para contratar “médicos em pacote” e através de empresas de aluguer de médicos à hora, em todo o país e para diversas especialidades, tendo como único critério de seleção "o mais baixo preço unitário por hora". O que não é novo dentro do nosso SNS, o que tem de novidade é que esta medida em vez de supletiva, ou seja, apenas recorriam a ela administrações hospitalares para suprirem necessidades pontuais de serviços, nomeadamente para o serviço de urgência, é abrangente e para todo o território. 
 
O MS não abre concursos de recrutamento para qualquer Unidade do SNS preferindo que os médicos, e outros profissionais, mais novos emigrem, aceitem vencimentos aviltantes ou caiam nas mãos indiferentes de empresas de prestação de serviços médicos, transformando-os em pacotes de horas e em lotes de concursos públicos ao nível do papel higiénico e da algália. Não destingue um Assistente, um Assistente Graduado ou um Assistente Graduado Sénior. Ainda nem percebeu muito bem para que serve um concurso ao Grau de Consultor. O MS quer médicos que produzam 5 consultas por hora, que operem olhando para a ampulheta, que ignorem a formação dos mais novos e dos futuros especialistas. Quer que os médicos trabalhem no SNS em outsourcing, desligados de qualquer hierarquia técnica, de qualquer carreira, de qualquer responsabilidade formativa, de qualquer incentivo ao trabalho em equipa. Promovendo desta forma um mau serviço, um serviço sem perspectiva nem qualidade. Que reduz o doente a uma mera quantidade, um numero, um pacote de horas....Serviços inteiros de várias especialidades, poderão passarem para empresas privadas de aluguer de mão-de-obra médica!! O governo mostra de forma muito evidente que pretende enveredar por uma via de privatização dos serviços de saúde, desarticulando-os e fazendo de cada instituição pública de saúde uma “manta de retalhos” com várias empresas a deterem diferentes serviços e em clara competição financeira entre elas. O governo reduz toda a actividade assistencial dos serviços públicos de saúde a uma lógica taylorista de trabalho médico cronometrado e destinada aqueles cujo diferenciação técnico-científica é diminuta.

Esta forma de contratação dos recursos humanos mais valiosos na cadeia de prestação de cuidados de saúde dissipou qualquer duvida que houvesse quanto ´as intenções do MS em relação ao SNS. Depois disto não há mais margem para contemporizações, há que reagir à agressão com celeridade e com a mesma veemência.


Entretanto, mais de mil estudantes de medicina concentraram-se em frente ao ministério da Saúde em protesto contra a falta de vagas para o internato médico, fundamental para exercerem a profissão. Segundo a Lusa, os estudantes vestiam batas brancas e ostentavam ao peito “senhas de espera”. O problema surge porque a capacidade do internato médico é apenas de 1.500 vagas, enquanto que o número de licenciados chega aos dois mil em cada um dos próximos anos. Manuel Abecassis, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), diz que “são diplomados em medicina, que não vão poder terminar a formação”, acrescentando que “muitos, se calhar, vão ter que completar o curso lá fora, nos países onde isso é possível”.

 
Assim caminhamos alegremente para um caos nas instituições de saúde...