A obrigação de cortar no pagamento de horas extras, decorrente do acordo com a troika, está a levar as administrações regionais de saúde a reduzir horários dos centros de saúde - fechar ao fim-de- semana e acabar com as consultas entre as 20 e as 22 horas.
Os cortes que o Governo impôs aos custos com trabalho extraordinário (fixados por despacho numa redução mensal, em média, de 10% comparativamente à despesa feita em período homólogo) levarão, a sérios constrangimentos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que começaram em Janeiro a ter os seu primeiros efeitos.
Até ao fim do mês de Janeiro o Ministério da Saúde, através das Administrações Regionais de Saúde, quer conhecer onde e quanto é que os centros de saúde vão poupar com o fim do pagamento de horas extraordinárias a médicos enfermeiros e funcionários administrativos.
"Dando cumprimento ao desenvolvimento das actuais orientações da política económica e financeira", a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte já deu indicações para que sejam desenvolvidos "todos os esforços no sentido da redução das horas extraordinárias". Em 2012, a redução no pagamento de trabalho fora do horário normal é de 15%.
A nivel local, exemplo disso, além das taxas moderadoras, é a alteração do horário de funcionamento dos Serviços de Atendimento Urgente (SASU) de Penafiel e Paredes que funcionavam aos Sábados, Domingos e feriados das 9 às 21h.
A partir de Janeiro, estes SASU´s passaram a estar aberto nesses dias apenas entre as 9 e as 16 horas, no caso do SASU de Paredes, e das 13 às 20 horas no caso do SASU de Penafiel.
Este é o primeiro resultado visível da aplicação no Agrupamento de Centros de Saúde do Tâmega e Sousa de um conjunto de medidas que visam adaptar aqueles serviços de saúde à redução das horas extraordinárias em cerca de 40%.
E os restantes SASU's? O de Paços de Ferreira, e os que funcionam sob alçada das Misericórdias? Lousada, Felgueiras e Marco de Canaveses? Perderão o acordo para atenderem os utentes do SNS? Atendendo-os apenas em regime privado?
Esta situação empurra os utentes para a urgência do Hospital Padre Américo, saturando-a ainda mais.
Entretanto alguns centros de saúde estiveram a cobrar três euros aos utentes por cada chamada ou email enviado para o médico de família. Em causa está uma interpretação que fazem das alterações às taxas moderadoras que entraram em vigor a 1 de Janeiro e que prevêem a cobrança de “consultas sem a presença do utente”.
A cobrança dos três euros por este tipo de contactos surpreendeu os utentes, mas os centros de saúde justificam que esta verba está prevista na portaria publicada em Dezembro sobre as alterações às taxas moderadoras e que começou a vigorar a 1 de Janeiro.
As consultas sem presença do utente, de acordo com as informações avançadas aquando da publicação da portaria, consistem em actos de assistência médica que podem resultar num “aconselhamento, prescrição ou encaminhamento para outro serviço”, tendo sido referido como exemplo a renovação de receituário.
Mas os centros de saúde de Lisboa, dirigidos por Manuela Peleteiro (Alvalade, Benfica, Loures, Lumiar, Odivelas e Pontinha), estão a ir mais longe na interpretação da legislação. Segundo explicou aquela médica à rádio RSF, estas instituições do Serviço Nacional de Saúde estão também a cobrar os três em euros em casos de contactos telefónicos, ou pela Internet, com o médico e que tenham como objectivo aconselhamento clínico como continuar ou não um medicamento. De todas as formas, a responsável garantiu que têm deixado a decisão na mão de cada clínico.
Já a directora do centro de saúde de Sacavém, Eleine Lopes, em declarações à mesma rádio, disse que por agora apenas estão a cobrar a taxa quando é feito um pedido de renovação de receitas.
Diferentes comportamentos que já mereceram críticas por parte do bastonário da Ordem dos Médicos. “Não se pode chamar a isso consulta porque o doente não está presente, quem vai emitir uma opinião pode nunca ter visto o doente. Portanto, não há aí um acto de consulta, não pode ser taxado dessa maneira, nem sequer é um acto de moderação de consumo, isso é absolutamente inaceitável”, afirmou José Manuel Silva, que pede “bom senso”.
Entretando o Ministério da Saúde já mandou devolver as taxas cobradas indevidamente e esclareceu o conceito de “consultas sem a presença do utente”.
Em Portugal estar doente, repentinamente, vai começar a ser um luxo.....acessível só a alguns.....
in Tribuna Pacense a 13.01.2012