quinta-feira, 22 de abril de 2010

A radiação e os seus malefícios

Em Imagiologia poderemos dividir as técnicas diagnósticas em função da fonte de energia utilizada para gerar imagens: em radiação ionizante ou não ionizante.

As modalidades que utilizam radiação ionizante são as que utilizam radiação x, gama, etc. A radiação x é a utilizada na Imagiologia, enquanto a radiação gama é comumente utilizada na Medicina Nuclear e/ou Radioterapia. E o que são radiações ionizantes?

Em Imagiologia, a energia eléctrica é transformada por uma máquina (gerador) em energia electromagnética (raios X) e em energia térmica. Posteriormente, esses RX irão induzir outras trocas entre tipos e estados de energia na matéria, sobre a qual incidem. Então, a radiação mais não é, do que a energia emitida e transferida através da matéria. A luz visível é uma forma de energia electromagnética emitida pelo sol à qual podemos chamar radiação electromagnética. A matéria que intercepta uma qualquer radiação, diz-se irradiada ou exposta à radiação. A radiação ionizante, tem a capacidade de arrancar um electrão da órbita em turno do núcleo, de modo a este interagir com outro átomo próximo. Tornando a átomo ionizado, com carga positiva. Qualquer tipo de energia capaz de ionizar a matéria denomina-se ionizante. Os raios X e gama são as únicas formas de radiação electromagnética com energia capaz de ionizar a matéria.

Existem na natureza algumas formas de radiação ionizante que são prejudiciais para o ser humano. Uma delas é denominada radiação ambiental natural, outra é denominada radiação cósmica.A radiação ambiental resulta da desintegração de alguns átomos que existem na matéria, como por exemplo o urânio. A radiação cósmica vem do universo, das várias estrelas e material celeste, que existe no espaço, libertando radiação que atinge o nosso planeta constantemente. Os RX utilizados na medicina são a primeira fonte de radiação ionizante criada pelo Homem. Os benefícios da sua utilização são indiscutíveis: têm a capacidade de observar o corpo humano in vivo. Mesmo assim, a sua aplicação deve ser sempre prudente, procurando evitar exposições desnecessárias. Entre as outras fontes não naturais tem-se a referir, as centrais nucleares, bombas atómicas, certos aparelhos de televisão, luzes de aeroportos, etc.

Mas o efeito ou capacidade de ionizar induz um efeito biológico, este já não a um nível atómico mas molecular. O efeito biológico da radiação engloba bastantes factores, estando relacionado com o efeito ionizante da radiação em geral. Uma vez ionizado um átomo, mudam-se as suas capacidades de união química, podendo levar à ruptura da molécula onde se inserem os átomos ionizados. A molécula anormal pode funcionar, mas de uma forma incorrecta e dar lugar a tecidos neoformativos, ou não trabalhar e necrosar. Este processo não é irreversível, pois as moléculas têm enzimas que “reparam” as moléculas danificadas mas por vezes isso não acontece. E surgem sintomas de excesso de radiação como por exemplo: diarreias, náuseas, vómitos, hemorragias, etc. Estes efeitos que se detectam horas, dias, semanas após a exposições prolongadas, dizem-se somáticos.

Por vezes a radiação pode provocar alterações atómicas na molécula de ADN que se encontra no núcleo das moléculas. O ADN, tem também uma capacidade regeneradora, mas pode por vezes, ocorrer uma mutação, um erro na sua sequência, que não é reparado, sendo transmitida de célula para célula. Por tal motivo, as mulheres em idade fértil, e em que se suspeite de gravidez, não devem estar expostas a radiações. Sobretudo nos primeiros meses de gestação.

Certas alterações, podem só se manifestar passados anos da exposição à radiação e ser até transmitida ás gerações seguintes, podendo só se manifestar na 2ª geração. Estas alterações dizem-se genéticas e um exemplo são os descendentes dos indivíduos expostos à radiação das bombas atómicas no Japão, na 2ª Guerra Mundial. Neste caso estamos a falar de exposições a doses muito superiores aos limites máximos admissíveis.

Todos os equipamentos imagiológicos que utilizem radiação x têm essa capacidade de ionizar moléculas. Uns mais do que outros. Por ordem crescente de energia teremos o densitómetro, no qual se realiza a densitometria óssea, mamógrafo, que realiza as mamografias, o equipamento de raio x , que realiza todo o tipo de raio x (seja ele convencional, digital, com fluoroscopia, etc) e por último o TC, vulgarmente designado por TAC, que emite mais radiação do que qualquer outra técnica.

O beneficio que provém da exposição a estas radiações supera, na maioria dos casos, os riscos que comportam.

Como nota refira-se que a ecografia não utiliza qualquer radiação como fonte de imagem, mas sim a capacidade de propagação dos sons em meio aquoso. No caso ultra-sons, com frequências imperceptíveis ao ouvido humano. Daí que não seja conhecido nenhum efeito nocivo para os seres humanos pela sua aplicação.

A Ressonância Magnética também não utiliza radiação ionizante mas sim determinadas ondas de radiofrequência combinadas com campos magnéticos fortes. Trata-se de uma técnica que utiliza as propriedades magnéticas dos átomos para gerar imagens de alta resolução. Cada vez mais surgem novas aplicações para esta técnica. O recurso a esta técnica é ainda limitado, uma vez que os custos são ainda elevados, embora os benefícios sejam enúmeros e os malefícios quase inexistentes.

Mais uma vez afirmo, os dados imagiológicos não devem ser o centro da avaliação do doente, mas sim coadjuvar os dados e a avaliação clínica efectuada pelo médico assistente.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

IMAGIOLOGIA I

Nesta edição iniciarei a abordagem de uma área clínica transversal a todas as especialidades médicas e com a qual a grande maioria (se não mesmo todos nós) já contactamos com ela, a Imagiologia.
A radiação utilizada em diagnóstico médico não foi inventada, mas sim descoberta e de um modo acidental. Durante as décadas de 1870 e 1880, vários laboratórios de física, em várias universidades, investigavam os electrões, na altura chamados raios catódicos, através de enormes tubos de vidro, semelhantes às actuais lâmpadas, dentro das quais existia um gás rarefeito que imitia o vácuo (mas aceitável para a época). Eram os chamados tubos de Crookes, em homenagem ao seu inventor Sir William Crookes. Na época existiam vários tipos de tubos de Crookes e a maioria produzia radiação X, a qual não era detectada ou registada.

Em meados de Novembro de 1895, Conrad Roëntgen, trabalhava no seu laboratório da Universidade de Wurzburg na Alemanha, com um tubo de Crookes, quando por casualidade verificou que uma placa com uma substância fluorescente que se encontrava perto do tubo, emitia uma pequena luz, que aumentava quando a aproximava do tubo . Permitiu assim, não ter dúvidas quanto à origem da luz – provinha do tubo de Crookes. Roëntgen começou então a investigar esta luz que denominou de “X”, interpondo entre a fonte e a placa fluorescente vários materiais diferentes (madeira, alumínio, mão, ...).



Durante vários meses investigou essa luz X, descobrindo quase todas as propriedades físicas conhecidas até hoje. Publicou os seus trabalhos em 1897 e recebeu posteriormente o Prémio Nobel da Física em 1901.

Desde então até aos nossos dias existem alguns marcos importantes, em 1913 William Coolidge concebe uma variante do tubo de Crookes que ainda hoje (com os devidos aperfeiçoamentos) se usa comumente, as denominadas ampolas de raio X. Com o aparecimento do televisor, na década de 50 de século passado, a fluoroscopia inicia os seus passos na Radiologia. Hoje em dia, a fluoroscopia é amplamente aplicada com um intensificador digital de imagem acoplado. Com o aparecimento dos computadores e a sua aplicação á medicina, também a Radiologia deu um salto gigantesco, em 1966 desenvolvia-se o primeiro Ecógrafo, em 1973 o primeiro Tomógrafo Computadorizado, vulgo TAC. Em 1979 introduz-se a Fluoroscopia Digital, em 80 desenvolve-se a 1ª Ressonância Magnética. Nos anos 90 as aplicações digitais são incorporadas em massa nos sistemas médicos de imagem, com vantagens de redução de dose absorvida pelo doente e menor quantidades de químicos excedentários produzidos para a revelação das películas.

Na década de 90 as técnicas de obtenção de imagem do corpo humano por incorporarem meios que já não têm apenas a radiação x como fonte, é o caso da ecografia que usa as propriedades das ondas sonoras e da Ressonância Magnética, que usa as ondas de rádio, denomina-se agora de Imagiologia em detrimento da clássica Radiologia.

Englobado na Imagiologia teremos então múltiplas modalidades:

Radiologia convencional (rx tórax, ombro, coluna, ortopantomografia, etc)

Radiologia contrastada (clister opaco, trânsito gastro duodenal, urografia endovenosa, etc)

Radiologia Intervenção (biopsias, colocação de arpões, etc)

Mamografia

Densitometria Óssea

Ecografia

Tomografia Computadorizada (TC)

Angiografia

Ressonância Magnética (RM)


O clínico prescritor de um qualquer exame, deve orientar o seu pedido de modo a evitar exposições desnecessárias, que só prejudicam os doentes, e gastos desnecessários, que só aumentam a despesa na saúde. Os dados imagiológicos não devem ser o centro da avaliação do doente, mas sim coadjuvar os dados clínicos. E manda o bom senso que se inicie, na maioria dos casos, o estudo por técnicas menos invasivas e de menor custos e mais acessíveis aos doentes.

A Imagiologia é um Meio Complementar de Diagnóstico e Terapêutica composto por profissionais altamente especializados, nomeadamente Médicos Radiologistas e Neurorradiologista e Técnicos Superiores de Radiologia que em equipe obtêm diagnósticos e nalguns casos efectuam actos terapêuticos, para quem deles se socorra.